[Verso 1: Xamã]
Te trouxe rap mãe
E uma cocada no trem
Catei uma rosa no canteiro
E trouxe um dinheirinho também
Pra fazer umas compras
Vi que a senhora não pinta mais o cabelo, mas
Quando sorri ainda me me encontram
Ainda curte o mesmo programa de sempre
Mudou de penteado, mas sempre com o mesmo pente
Desculpa ter sumido, é que eu estava me procurando
Nesse tal mundo perdido e acabei não me encontrando
Ainda não tô rico mãe
Mas tô tentando
Inseguro eu nunca fui, nem com a senhora me segurando
Enquanto a lágrima não flui é que a vista já tá secando, mãe
Eu vi tanta coisa ruim se aproximando
Me lembro de cada sopro que curava a minha ferida
Poxa mãe, eu vi tanta coisa errada nessa vida
Já tive tanta roupa, hoje uma calça comprida
Sai pra fazer direito, voltei com rima e batida
Mas você ainda é minha menina crescida
Vivia me elogiando pra todas as suas amigas
Geral sempre falava que cê era tão querida
E reza a lenda em Sepetiba que ainda era boa de briga
E hoje eu sou seu menino crescido
Palhaço no palco, mas sozinho meio deprimido
Esboço uns sorrisos falsos, às vezes retribuido
Saudade de assistir uns filme antigo contigo, mãe
E quantas vezes convenção virou champagne
Eu soltando pipa e você ia me buscar pra tomar banho
Quantas vezes multiplicou poucos pães
Quantas vezes ouvi não quando eu pedi pra comprar um vans
Banquete das manhãs, café pão e manteiga
Churrasco no quintal, domingo ao som do Raça Negra
Eu rock'n'roll com 17, com as caveiras na blusa
Você me deu um cartão C&A
Aí filho: "Usa e abusa"
Mas de excesso eu nunca fui, você sabe
Eu já rimei um universo e nos meus verso ele num cabe, mãe
Me fala, como tá seu coração?
Tá bem amado ou tá sendo ocupado por um vacilão?
Porque se for manda vim desenrolar
Eu sou magrinho e favelado e as porradas é ruim de aturar
Bobagem, o tempo passa e viagem
E das porradas que eu levei da vida, a sua era massagem
O meu quintal cheio de mangueira
Hoje a zona oeste inteira
Tô no trampo de rap de segunda à segunda feira
Neguinho que me gastava agora fica de bobeira
E em 45 segundos e n'outro mic, geladeira
Eu tenho asa e vou pular, mãe, se pá eu decolo
Ai levo o mundo nos ombros, mas cê já me pegou no colo
[Refrão 2x]
E quanta coisa eu já passei com a senhora
Só que infelizmente é a hora de ir embora
Então deita no meu ombro e chora
Enquanto a gente comemora
Dorme agora, porque é só o vento lá fora
[Verso 2: Estudante]
Mãe, já conversamos sobre meu futuro
Eu dividido entre o certo e errado, em cima do muro
Imaturo, vai mudar, eu juro
Mas preciso do seus braços e oração pra ficar seguro
Sei que sempre foi difícil sustentar o lar
As notas não batiam com as contas a pagar
Cê deixava de almoçar e sobrava pra eu jantar
Metade do seu salário num curso particular
Ao lembrar da sandália rasgada, madrugada
Carregando no colo com a expressão cansada
Fadigada da jornada, sempre com muito apego
Nem era o pai do Chris, mas trampava em dois emprego
Não era pai do Chris, mas era meu
Apesar do tamanho pequeno me fez subir como Zaqueu
Uns tios sumiram, meu pai desapareceu
Fui suspenso por três dias, lembro a surra que me deu
Mas acontece que sua surra era carinho
Pra eu me tornar um homem e não desviar do meu caminho
Suas palavras sábias deviam vir em pergaminho
Puta só e ladrão só, faça suas merdas sozinhos
Mas conselho eu nunca ouvi, abusado
Ouvi cuidado, cuidado, pra no final escutar coitado
Sei que você não me criou pra ser esse cara largado
Tu na igreja, mó peleja, eu no mundão todo errado
Fedendo a pecado, como diz Sant, meu chegado
Trocado vira álcool e eu vivo embriagado
Fujo da realidade, às vezes desesperado
Ter crescido e não ter dado o futuro que era esperado
Sei que não sou o filho que tu merece
Noites mal dormidas, acordada e o excesso de estresse
Escreveu meu roteiro, mas sou improvisador
E não te compro uma rosa pois nenhuma exala amor
[Refrão 2x]
E quanta coisa eu já passei com a senhora
Só que infelizmente é a hora de ir embora
Então deita no meu ombro e chora
Enquanto a gente comemora
Dorme agora, porque é só o vento lá fora