[Verso 1]
Quando eu escrevo o complicado, torna-se simples
O difícil parece fácil
Os versos ganham requintes pessoais
Que são transmitidos aos ouvintes que me dão força
Ou não
Para passar ao verso seguinte
Então entro em sintonia, encontro o meu conforto
Como se a caneta e o papel fizessem parte do meu corpo
Sistema nervoso e sanguíneo em comum
Às vezes chego a pensar, que somos apenas um
Rimo na língua dum povo, dum povo que é poeta
Eu rimo em português porque é uma língua completa
Então uso o meu conhecimento e todo o meu vocabulário
Com as 26 letras do nosso abecedário
Na cabeça um dicionário, dicções sobre bases
Letras fazem palavras e palavras fazem frases
Estas dão versos, dois versos é uma rima
Duas rimas é uma quadra, é o poder das palavras
Imagina a mulher que amavas e hoje amas ainda mais
O que eram problemas, hoje são questões banais
Respeito esta cultura como só respeito os meus pais
Cantando e rimando e produzindo instrumentais
Quando eu escrevo, torna-se pequeno o universo
Olho para dentro, comigo próprio converso
Uns divulgam o banal, eu faço o inverso
Viver é o objectivo, rimar é o processo
Muito mais que entretenimento é a sua versão lúdica
Paz é o que quero transmitir a quem ouve a minha música
E a paz começa em ti, em respeitares o teu parceiro
Se queres mudar o mundo então muda-te a ti primeiro
[Refrão]
Porque eu pego numa caneta e numa folha de papel
E ando atrás da verdade como uma abelha atrás do mel
Digo o que quero, liberto os meus nervos
E é isso que eu sinto, é isso que eu sinto quando escrevo
[Scratch]
[Verso 2]
Com beat ou sem beat, com ou sem apoio
Na casa, no trabalho, na escola ou no comboio
Rimas são muitas mas cada uma
É dita e escrita como se fosse a última
Primeiro eu próprio e toda a minha vivência
O que eu passei, o que eu passo e toda a minha experiência
Public Enemy e Gang Starr foram as minhas influências
Mas agora apenas conto com a minha consciência
Desenvolvida e escrita de tardes e insónias
Xeg no microfone, sou mestre de cerimónia
Não preciso de banda, nem orquestra sinfónica
'Tou infetado por esta merda como se fosse doença crónica
E progressiva, 'tou cada vez pior
Ou cada vez menor conforme a perspectiva
Voz activa, a teoria une-se à prática
Rimas saem à medida que
Gasto tinta da minha esferográfica
Escrita nos cadernos ou no bloco de matemática
Cantando, rimando de uma maneira sistemática
Quando eu escrevo, a atmosfera torna-se apática
Desmentindo da verdade mesmo quando esta é dramática
Que a força não está, entre quem perde ou vence a briga
Mas em seres tu próprio, não no que a sociedade te obriga
Cago p'ró que pensam em mim
Cago e prossigo e fico bem com o mundo
Mesmo que o mundo não esteja bem comigo
Agora com ou sem metáforas, simples ou complicado
Certo, cruzado ou então emparelhado
Mantém-te ligado porque eu mantenho-me fiel
Torno doce o que era amargo, torno dócil o cruel
[Refrão]
Porque eu pego numa caneta e numa folha de papel
E ando atrás da verdade como a abelha atrás do mel
Digo o que quero, liberto os meus nervos
E é isso que eu sinto, é isso que eu sinto quando escrevo
[Scratch]