[Intro: Zeca Afonso]
Ventos do monte, oh brisas do mar
Da história que eu vou contar
Ventos do monte, oh brisas do mar
Da história que eu vou contar
[Verso 1: Papillon]
Acabo de chegar da terra dos estudantes
Sem mais esse mais faculdade, agora faz a soma
Minha mãe disse que o futuro seria brilhante
A partir do dia em que eu tivesse um diploma
E como a família vem sempre em primeiro
O futebol e o meu skate ficaram num canto
Os amigos alguns foram chumbando
Outros iam trabalhando, outros até foram pais entretanto
Quando me chamavam dizia que não podia
Pois tinha de continuar a ficar focado
Um rapaz abordou-me certo dia
Mal abriu a boca eu disse: "Não, obrigado"
[Refrão: Papillon & Zeca Afonso]
Porque eu só quero ir, para um melhor lugar
Para um melhor lugar onde eu posso ouvir
"A história que vou contar..."
[Verso 2: Papillon]
Acabo de chegar da terra dos estagiários
Lá há muita exploração e pouca transparência
Na entrevista disseram que até me contratavam
Só que não contratam pessoal sem experiência
Mas deram-me uma proposta pa' fazer estágio
Aceitei por achar ser uma oportunidade
Para arranjar trabalho, era o que eu tinha pensado
Talvez isto seja uma boa forma de entrar no mercado
Seis meses à borla mais três remunerados
No último dia de estágio houve greve: eu 'tava atrasado
E o mesmo rapaz que já me tinha abordado pediu-me um bocado
Eu com pressa disse: "Não, obrigado"
[Refrão: Papillon & Zeca Afonso]
Porque eu só quero ir, para um melhor lugar
Para um melhor lugar onde eu posso ouvir
"A história que vou contar..."
[Verso 3: Papillon]
Agora vou para a terra dos emigrantes
Porque aqui não vejo outra solução
Dizem que eu sou sobrequalificado
Mas na minha área não arranjo profissão
Até vi o Primeiro-Ministro na televisão a falar para a população incentivando a emigração
Investi na educação, trabalhei sem condições
Mas decidi acabar com esta situação
Já tenho bilhete e as malas já estão feitas
E os que decidirem ficar aqui também estão
E o mesmo rapaz que da outra vez pediu-me atenção
Desta vez nem obrigado disse, disse que não
[Refrão: Papillon & Zeca Afonso]
Porque eu só quero ir, para um melhor lugar
Para um melhor lugar onde eu posso ouvir
"A história que vou contar..."
[Verso 4: Papillon]
De terra em terra andei durante toda a vida
E assim tentei chegar à Terra Prometida
Pensava que para lá chegar teria que ter guita
Respeito e poder numa carreira bem sucedida
Mas eis que a vida um dia atropela-te por trás
E marca na agenda: Hoje é o dia em que descansas em paz
Assim abruptamente e de repente sentes
Só quando a vês passar-te à frente percebes o quão atrasado tu 'tás
E uma lucidez diferente sussurra-me ao ouvido
Diz-me que vou morrer como se nunca tivesse vivido
Devia ter invertido a lista de prioridades
Percebi que a Terra Prometida era aqui na verdade
Aqui fazendo o que eu gosto, rodeado daqueles que eu amo
Ajudando sempre que posso mesmo quando nada ganho
Aqui a conhecer-me a mim próprio
Pôr-me no lugar do estranho
Agradar e agradecer o dobro e dar valor ao que eu já tenho
Alienado, fechado numa falsa realidade
Maturidade é saber o significado de felicidade
Ilimitado é pensar em infinitas possibilidades
Viver baseado nos "ses" da vida só te deixa condicionado
Mas se eu fosse atrás do meu sonho
Se eu visse chegar o carro
Se não fosse atropelado e tivesse um tipo de sangue raro
Se o rapaz não tivesse o sangue que usaram para me reanimar
Hoje eu não estaria aqui com esta história pra contar
[Refrão: Papillon & Zeca Afonso]
Porque eu só quero ir, para um melhor lugar
Para um melhor lugar onde eu posso ouvir
"A história que vou contar..."