Vinícius de Moraes
Monólogo de Orfeu
[Intro: Vinicius de Moraes & Natália Correia ]
O mónologo de orfeu?
Sim
Ah, mas claro com prazer [?]
Ah muito obrigado
[Verso 1: Vinícius de Morais]
Mulher mais adorada!
Agora que não estás
Deixa que rompa o meu peito em soluços
Te enrustiste em minha vida
E cada hora que passa
É mais por que te amar
A hora derrama o seu óleo de amor em mim, amada
[Verso 2: Vinícius de Morais]
E sabes de uma coisa?
Cada vez que o sofrimento vem
Essa vontade de estar perto, se longe
Ou estar mais perto se perto
Que é que eu sei?
Este sentir-se fraco
O peito extravasado
O mel correndo
Essa incapacidade de me sentir mais eu, Orfeu
Tudo isso que é bem capaz
De confundir o espírito de um homem
[Verso 3: Vinícius de Morais]
Nada disso tem importância
Quando tu chegas com essa charla antiga
Esse contentamento, esse corpo
E me dizes essas coisas
Que me dão essa força, esse orgulho de rei
[Verso 4: Vinícius de Morais]
Ah, minha Eurídice
Meu verso, meu silêncio, minha música
Nunca fujas de mim
Sem ti, sou nada
Sou coisa sem razão, jogada, sou pedra rolada
Orfeu menos Eurídice: coisa incompreensível!
A existência sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos
Tu és a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo
Minha amiga mais querida!
[Verso 5: Vinícius de Morais]
Qual mãe, qual pai, qual nada!
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada! Ah! Criatura!
Quem poderia pensar que Orfeu
Orfeu cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala, como o vento à flor
Despetala as mulheres
Que ele, Orfeu ficasse assim rendido aos teus encantos?
[Verso 6: Vinícius de Morais]
Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho
Que eu vou te seguindo no pensamento
E aqui me deixo rente quando voltares
Pela lua cheia
Para os braços sem fim do teu amigo
Vai tua vida, pássaro contente
Vai tua vida que eu estarei contigo