[Letra de "12 de Outubro"]
[InterlĂşdio: Mano Brown]
12 de outubro de 2001, Dia das Criança'
Várias festa' espalhada' na periferia
No Parque Santo AntĂ´nio hoje teve uma festa
Foi bancada pela irmandade, uma organização
'Tavam confeccionando roupa, lá no Parque Santo Antônio, lá
Lutando, remando contra a maré
Mas 'tá lá, 'tá firme
Tinha umas trezentas pessoa' no... Na festa das criança'
Comida, mĂşsica
Tinha um grupo de rap de uma menininha de dez ano', cantando muito
AĂ saĂmo' de lá voado
E fomo' numa outra quermesse de rua, também, na Vila Santa Catarina
Lá do outro lado da Zona Sul, quase no Centro
E... chegamo' lá, a festa num tinha começado ainda
AĂ, no caminho passamo' por uma favela, assim
E trombamo' uns molequinho' jogando bola, e tal, começamo' a provocar
"Ei, moleque, 'cĂŞ Ă© santista?", tal
"NĂŁo, sou corinthiano."
Eu falei: "Ei, Marcelinho vai 'rebentar vocĂŞs."
E os moleque' veio naquela ideia de jogo, comecei a pesar na dos moleque'
"E aĂ, mano, e aĂ, 'tá estudando e tal?"
AĂ o moleque falou assim: "Ih, esse aqui hoje xingou a mĂŁe dele."
AĂ eu falei assim: "Por que 'cĂŞ xingou sua mĂŁe?"
"Ah, porque...", nĂŁo, nem foi isso!
Ele falou assim... eu falei: "Ganhou, 'cĂŞs ganharam presente?", eu perguntei
Num foi, nĂŁo, Neto?
"'CĂŞs ganharam presente?"
AĂ ele falou: "Ganhei foi tapa na cara, hoje."
Falei: "Por que 'cĂŞ tomou tapa na cara?"
"Ah, minha mĂŁe deu um tapa na minha cara."
"Foi isso que eu ganhei, nĂŁo ganhei presente, nĂŁo."
Falou assim, Ăł, bem convicto me'mo
AĂ eu falei assim: "Por que 'cĂŞ tomou um tapa na cara?"
"Porque eu xinguei ela."
"Ma' por que 'cĂŞ xingou?"
"LĂłgico, todo mundo ganhou presente e eu nĂŁo ganhei por quĂŞ?"
Aà eu fiquei pensando, né, mano?
Como uma coisa gera a outra
Isso gera um Ăłdio, o moleque com dez ano'
Tomar um tapa na cara no dia das criança'
Eu fico pensando quantas morte'
Quantas tragĂ©dias em famĂlia, o Governo já nĂŁo causou
Com a incompetĂŞncia, com a falta de humanidade
Quantas pessoas num morreram de frustração, de desgosto
Longe do pai, longe da mĂŁe, dentro de cadeia
Por culpa da incompetĂŞncia desses aĂ? 'Tendeu?
Que fala na televisĂŁo, fala bonito
Come bem, forte, gordo, viaja bastante
Tenta chamar os gringo' aqui pa' dentro
Enquanto os prĂłprios brasileiro' 'tĂŁo aĂ, Ăł
Jogado no mundĂŁo, do jeito que o mundĂŁo vier
Sem nenhum plano traçado, sem trajetória nenhuma, vivendo a vida, só
E o moleque era mĂł revolta, vai vendo, moleque revolta
E ele 'tava friozão, jogando bola, lá, pá, como se nada 'tivesse acontecido
Ali marcou pra ele
Talvez ele tenha se transformado numa outra pessoa aquele dia
Vai vendo o barato
Dia das Criança'